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sexta-feira, 23 de março de 2012

Trajetória do Conceito de Cultura



Se temos a pretensão de definir cultura é urgente conhecer sua trajetória. Serão expostos  a seguir, seis trajetos pelos quais passou e passa o conceito de cultura. Apesar de usarmos o recurso 1ª Fase, 2ª Fase, essa linearidade é fictícia, elaborada assim apenas para auxiliar o entendimento.

1ª Fase:  Vulgar, Sentido Comum (Não-científico)

A palavra vem do latim colere, que definia inicialmente o cultivo de plantas, o cuidado com os animais e também com a terra (por isso, agricultura). Definia, ainda, o cuidado com as crianças e sua educação; o cuidado com os deuses (seu culto); o cuidado com os ancestrais e seus monumentos (sua memória). Passando por todos esses elementos, chegaríamos, finalmente, ao sentido mais comum que o termo possui em nossa sociedade: o de que o homem que tem cultura é um homem “culto”. É aquele que “cultiva” (no sentido de desenvolver, praticar, cultuar) a inteligência, as artes e o conhecimento presente nos livros.

Nesse sentido, cultura é sinônimo de conhecimentos diversos, maneiras corretas, elegância, refinamento, donde se ouve dizer homem culto ou de grande cultura.


A antropologia, como ciência, desenvolveu-se principalmente a partir do século XVIII com a expansão colonial européia. Novos territórios vinham sendo descobertos e ocupados pelas potências européias (principalmente a Inglaterra) e novos povos (considerados primitivos, quando comparados com a sociedade ocidental) eram contactados. Era preciso conhecer e compreender seus hábitos, costumes e valores, principalmente, para melhor dominá-los. A antropologia surgiu, como se pode deduzir, como conseqüência da política imperialista e com o intuito de auxiliá-la. Ao longo do tempo, porém, a atuação dos antropólogos desenvolveu-se de maneira mais independente e num sentido muitas vezes oposto ao que deles se exigia. O estudo do “outro” (outros povos, suas crenças e costumes) passa a se desenvolver no sentido político de mostrar que diferenças culturais não significam inferioridade nem justificam a dominação.


2ª Fase: Concepção Universal de Cultura

A primeira definição científica de cultura é do antropólogo inglês Edward Tylor (1832-1917). Para Tylor cultura é a expressão da totalidade da vida social do homem. Desta forma, ele rompe com a teoria da degeneração que considerava os “primitivos” seres à parte.

Tylor acreditava na capacidade do homem de progredir e partilhava dos postulados evolucionistas do seu tempo. Tentando provar a continuidade entre a cultura primitiva e a cultura mais avançada, se esforçava para demonstrar a inevitável caminhada do selvagem em direção ao civilizado. Entre primitivos e civilizados não há uma diferença de natureza, mas, simplesmente, de grau de avanço no caminho da cultura (evolução).

Para desvendar a passagem da cultura primitiva para a  cultura civilizada, Tylor introduz na etnologia o Método Comparativo, buscando estabelecer estágios de evolução da cultura. O método comparativo também foi usado por Durkheim para estudar as sociedades, afirmava ele que a  sociedade mais complexa, evoluída, é aquela que possui maior divisão social do trabalho. Lembram!?

Evolucionismo:

A antropologia nesta fase servia, a outros interesses além dos científicos, para ordenar teoricamente a expansão do capitalismo europeu ao resto do mundo, desenvolvendo teorias evolucionistas. Os antropólogos procuravam descobrir as diferentes espécies sociais, classificando-as e ordenando-as num contínuo que ia das mais atrasadas e simples às mais adiantadas, evoluídas e complexas. Assim, as sociedades não-européias eram vistas como museus que conservavam vestígios de etapas passadas da humanidade.



3ª Fase: Concepção Particularista de Cultura

Se Tylor é o “inventor” do conceito científico de cultura, Boas será o inventor da etnografia (parte da antropologia responsável pela elaboração de dados obtidos em pesquisa de campo).

Franz Boas (1858-1942) é Alemão descendente de uma família judia alemã. Formou-se em física, matemática e geografia e em 1887 adota a nacionalidade americana.

A formação de geógrafo levou-o a participar de uma expedição entre os Esquimós na terra de Baffin (1883-1884). Partiu como geógrafo, com preocupação de geógrafo (estudar o efeito do meio físico sobre a sociedade esquimó, o que é denominado de determinismo geográfico). Entretanto, percebeu Boas que a organização social era determinada mais pela cultura do que pelo ambiente físico.

Determinismo Geográfico

O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico regulam a diversidade cultural. Boas nega esse tipo de determinismo já que é comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico. Para provar isso basta irmos ao Parque Nacional do Xingu. Os Xinguanos propriamente ditos (Kamaturá, Kalapalo, Trumai, Waurá etc.) desprezam toda a reserva de proteínas presentes nos grandes mamíferos, cuja  caça lhes é impedida por motivos culturais, e se dedicam mais intensamente à pesca e a colheita. Os Kayabi, que habitam o norte do Parque, são excelentes caçadores e preferem justamente os mamíferos de porte grande, como a anta, o veado, o caititu etc.

Toda a obra de Boas é uma tentativa de pensar a diversidade. Para ele, a diferença fundamental entre grupos humanos é de ordem cultural e não racial. Assim, Boas antecipa as descobertas da genética, ao afirmar que o conceito de “raça”, concebida como um conjunto de traços físicos específicos de cada grupo, não resiste a um exame rigoroso. Sendo impossível definir uma “raça” com precisão.

Dedicou-se em mostrar o absurdo da idéia de uma ligação entre traços físicos e traços mentais, implícito na noção de “raça”.  As velhas e persistentes teorias que atribuem capacidades específicas e inatas as “raças” também é chamada de determinismo biológico.


Determinismo Biológico

Por muito tempo se acreditou que um sueco era mais inteligente do que um negro de Moçambique; que os alemães têm habilidades para mecânica; que os turcos são avarentos e negociantes, que os norte-americanos são empreendedores e interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os árabes são terroristas; os ciganos são nômades por instinto; e, finalmente, que os baianos herdaram a preguiça dos negros e dos índios. Se há alguém que ainda crê em tais fatos, precisa reavaliar seus conceitos! Mas, como sabemos que esse tipo de pensamento ainda impera em menor ou maior grau, mesmo após todas as descobertas no ramo da bio-genética e da antropologia social, a única coisa que nos resta é seguir o critério do psicanalista Jaques Lacam “para a babaquice não tem cura!!”


A contrário de Tylor, Boas tinha como objetivo o estudo “das culturas” e não “da cultura”. Boas recusa o comparativismo imprudente da maioria dos autores evolucionistas, para ele há pouca esperança de descobrir leis universais de funcionamento das sociedades e das culturas humanas e ainda menos chance de encontrar leis gerais da evolução das culturas.

Devemos a Boas a concepção antropológica do “relativismo cultural” mesmo que não tenha sido ele o criador desta expressão, a qual aparecerá apenas mais tarde.


4ª Fase: Concepção Funcionalista da Cultura

O funcionalismo foi uma das escolas do pensamento antropológico que mudou a inclinação das teorias evolucionistas, eurocêntricas e etnocêntricas. O principal representante da escola funcionalista é o antropólogo inglês, Bronislaw Malinowski (1884-1942).



Etnocentrismo é o princípio igualmente tendencioso de considerar uma raça como padrão e modelo, ponto mais elevado atingido pela espécie humana.
Eurocentrismo é a tendência a interpretar as sociedades não-européias a partir dos valores e princípios europeus, isto é, tomar a sociedade européia como modelo e padrão.



Para Malinowski o importante não é que o traço esteja presente aqui ou lá, mas que ele exerça, na totalidade de uma dada cultura, uma função precisa. Em toda cultura cada costume, cada objeto, cada idéia e cada crença exerce uma certa função vital, têm uma certa tarefa a realizar, representam uma parte insubstituível da totalidade orgânica.

De acordo, com Malinowski os elementos constitutivos de uma cultura teria como função satisfazer as necessidades essenciais do homem. O indivíduo tem um certo número de necessidades psicológicas (alimentar-se, reproduzir-se, proteger-se etc.) que determinam imposições fundamentais. A cultura constitui precisamente a resposta funcional a estes imperativos naturais.

O grande mérito de Malinowski foi demonstrar que não se pode estudar uma cultura analisando-a de fora, e ainda menos à distância. Não se satisfazendo com as observações diretas “em campo” (feitas por Boas), sistematiza o uso do método etnográfico chamado de “observação participante”.  A “observação participante” trata fundamentalmente de entender o ponto de vista do autóctone (nativo, aborígine, indígena), introduzindo-se no espaço deste.

Outro funcionalista importante foi o inglês Radcliffe-Brown, que, influenciado pelas teorias e pelo método de Durkheim, procurou adaptá-los ao estudo das sociedades não-européias. Como Malinowski, considerava essas sociedades como totalidades integradas de instituições que têm por função satisfazer necessidades básicas de alimento, segurança e abrigo, e da manutenção da vida social.

A Psicologia parece adotar o conceito de Cultura de Malinowski, definido cultura como um conjunto de técnicas para a satisfação de necessidades, e solução de problemas. A cultura consiste em modos tradicionais de solucionar problemas, compõe-se de respostas que foram aceitas porque tiveram sucesso ao serem aplicadas.


5ª Fase: “Cultura e Personalidade”

Alguns antropólogos, considerando que o vínculo existente entre indivíduo e cultura não foram levados em conta, se dedicarão a compreender como os seres humanos incorporam, produzem e vivem suas culturas.

A questão é tornar compreensível como a cultura está presente nos indivíduos, como ela age, que conduta ela provoca, supondo precisamente que cada cultura determina um certo estilo de comportamento. Aí estaria, no entender desses antropólogos, o que distingue a unidade de uma cultura e o que a torna específica em relação às outras.

A discussão central na escola “cultura e personalidade”  é descobrir por quais mecanismos de transformações, os indivíduos de natureza idêntica a princípio, acabam adquirindo diferentes tipos de personalidade, característicos de grupos particulares. A hipótese para tal questionamento é que à pluralidade das culturas deve corresponder a uma pluralidade de tipos de personalidade.

Ruth Benedict (1887-1948) aluna e assistente de Franz Boas, vai dizer que cultura não é simplesmente uma aglomeração de traços culturais, mas, uma maneira coerente de combiná-los. De certo modo, cada cultura oferece aos indivíduos um “esquema” inconsciente para a realização de todas atividades humanas.

Margaret Mead  (1901-1978), orienta suas pesquisas em direção à maneira como um indivíduo recebe sua cultura e as conseqüências que isso provoca na formação da sua personalidade.

Sua pesquisa foi feita na Oceania em três sociedades da Nova Guiné, os Arapesh, os Mundugumor e os Chambuli.

Margaret Mead, mostra que a suposta diferenciação de personalidade masculina e feminina que consideramos universais, por crermos que são de ordem biológica, não existem, como as imaginamos, em todas as sociedades. Sabe-se que algumas sociedades não possuem um sistema cultural de educação que busca opor meninos de meninas.

Entre os ARAPESH, tudo parece organizado na infância para o futuro. O  Arapesh homem ou mulher, é doce, sensível, servil. Enquanto, que entre os MUNDUGOMOR, a conseqüência do sistema de educação é treinar a rivalidade e até a agressão, seja entre os homens, entre as mulheres ou entre os dois sexos. Na primeira sociedade (Arapesh), as crianças são tratadas com afeição sem distinção de sexo; na segunda (Mundugumor), elas são educadas duramente pois não são desejadas, sejam elas meninos ou meninas. As duas sociedades produzem, devido aos seus métodos culturais, dois tipos de personalidade completamente opostos. Entretanto, elas têm um ponto em comum: não fazendo distinção entre "psicologia feminina" e "psicologia masculina", elas não criam uma personalidade especificamente masculina ou feminina.

 Segundo a concepção coerente em nossa sociedade, o Arapesh, homem ou mulher, parece dotado de uma personalidade mais feminina e "o" ou "a" Mundugumor possui uma personalidade mais masculina. No entanto apresentar os fatos assim seria um absurdo, absolutamente imprudente.

Ao contrário, o terceiro grupo, os CHAMBULI, pensam como nós que homens e mulheres são profundamente diferentes em sua psicologia. Mas, diferentemente da nossa sociedade, eles têm a convicção de que a mulher é "por natureza" empreendedora, dinâmica, solidária com os membros do seu sexo, extrovertida; e que o homem ao contrário é sensível, menos seguro de si, muito preocupado com sua aparência, facilmente invejoso de seus semelhantes.

Entre os Chambuli, são as mulheres que detêm o poder econômico e que garantem o essencial da subsistência do grupo, enquanto os homens se dedicam principalmente às atividades cerimoniais e estéticas, que os colocam freqüentemente em competência uns com os outros.

Deste modo, a personalidade individual não se explica por seus caracteres biológicos (por exemplo, como aqui, o sexo), mas pelo "modelo" cultural particular a uma dada sociedade que determina a educação da criança.

Desde os primeiros instantes da vida, o indivíduo é impregnado deste modelo, por todo um sistema de estímulos e de proibições formulados explicitamente ou não. Isto o leva, quando adulto, a se conformar de maneira inconsciente com os princípios fundamentais da cultura.
Este é o processo que os antropólogos chamaram de "ENCULTURAÇÃO".

A estrutura da personalidade adulta, resultante da transmissão da cultura pela educação, será em princípio adaptado ao modelo desta cultura.

As anormalidades psicológicas, presentes e estigmatizadas em todas as sociedades, se explicam da mesma maneira, não de um modo absoluto (universal), mas, de maneira relativa como sendo a conseqüência de uma inadaptação do indivíduo chamado "anormal" à orientação fundamental de sua cultura (por exemplo, o Arapesh egocêntrico e agressivo ou Mundogomor doce e altruísta). Pode-se perceber um vínculo estreito entre o modelo cultural, método de educação e tipo de personalidade.


Enculturação

Qualquer semelhança com a teoria Durkheimiana de fato social (coercitivo, exterior e geral) não é mera coincidência!

Enculturação (ou aculturação ou endoculturação) é o processo pelo qual o indivíduo aprende e assimila os padrões de uma cultura. O termo usado na sociologia é Socialização.

Desde crianças somos condicionados a certos padrões de comportamento aceitos e estabelecidos socialmente. Uma personalidade bem ajustada é aquela que satisfaz plenamente os impulsos pessoais dentro das expectativas permissíveis do ambiente social.
As sociedades não permitem que seus membros hajam de forma diferenciada. Todos os atos, comportamentos e atitudes de seus membros são controlados por ela.

A socialização é o ato de transmitir ao indivíduo, de inculcar em sua mente os padrões culturais da sociedade.

A socialização possui como seu instrumento o controle social que são as formas pelas quais a sociedade introduz os valores do grupo na mente de seus membros, para evitar que adotem um comportamento divergente.

O controle social tem por objetivo fazer com que cada indivíduo tenha o comportamento socialmente esperado mantendo, assim, a ordem social.


6ª Fase: Análise Estrutural da Cultura

Na França o tema da totalidade cultural foi retomando, ainda que em uma nova perspectiva, por Claude Lévi-Strauss, o mesmo define a cultura como:

Processo pelo qual o homem dá sentido a si e a tudo que o rodeia. Esse sentido é dado coletivamente. A cultura não é algo que possui conteúdo em si mesma, e sim, um princípio lógico pelo qual podemos pensar a natureza humana. A cultura diz respeito exclusivamente ao homem. É capacidade humana e só humana de dar sentido a si mesmo e ao outro (= diferente de si). O homem difere do animal porque se define pela função simbólica que torna possível pensar a cultura como um conjunto de sistemas simbólicos — linguagem, parentesco, religião, mito, arte, economia etc. — que estabelecem a comunicação entre os homens em diferentes níveis.

O pensamento de Lévi-Strauss é influenciado pelos antropólogos culturais americanos, entretanto, ele se diferencia deles por procurar ultrapassar a abordagem particularista das culturas, buscando analisar a invariabilidade da cultura.

O esforço da antropologia estrutural de Lévi-Strauss é localizar e reunir as “invariantes”, isto é, os materiais culturais sempre idênticos de uma cultura a outra. Ou seja, encontrar os elementos universais da cultura que são responsáveis para toda a vida social. Para Lévi-Strauss é possível encontrar regras universais, princípios indispensáveis da vida em sociedade.

Está  na natureza do homem a necessidade de viver em sociedade, mas, a organização da vida social depende da Cultura e implica a elaboração de regras sociais. O exemplo mais característico destas regras universais que o estruturalismo analisa é a proibição do incesto, o qual possui como fundamento a necessidade das trocas sociais.

Para apresentar a relação entre a universalidade cultural e a particularidade das culturas, Lévi-Strauss utiliza a metáfora do jogo de cartas:

O homem é como um jogador que tem nas mãos, ao se instalar à mesa, cartas que ele não inventou, pois o jogo de cartas é um dado da história e da civilização [...] Cada repartição das cartas resulta de uma distinção eventual entre os jogadores e se faz à sua revelia. Quando se dão as cartas, cada sociedade, assim como cada jogador, as interpreta nos termos de diversos sistemas, que podem ser comum ou particulares: regras de um jogo ou regras de uma tática. E sabe-se bem que com as mesmas cartas, jogadores diferentes farão partidas diferentes, ainda que limitados pelas regras!

A antropologia teria  terminado sua missão caso tivesse conseguido descrever todas as partidas possíveis, após identificar as cartas e enunciar as regras do jogo. Deste modo, a antropologia estrutural pretende retornar aos fundamentos universais da cultura.

Como viram, definir cultura é bastante complexo! Ao analisar os cinco conceitos científicos expostos, pode-se dizer que, assim como nos clássicos da Sociologia, que não há um conceito exato, universal. Espero que você tenha conseguido capturar aquilo que há de mais relevante em todas as fases,

As Lições da Antropologia Cultural

O debate mais crucial em torno da antropologia cultural é o que se refere à abordagem relativista das culturas, a qual enfatiza a pluralidade das culturas ao invés da unidade cultural. Segundo a abordagem relativista, as culturas são tratadas como totalidades específicas, autônomas entre si, e, conseqüentemente, cada uma deve ser estudada em si mesma, na sua lógica interna própria.

O que fica de lição ou de aprendizagem da Antropologia Cultural é justamente o fato de não ser mais possível ignorar que existem outras maneiras de viver e de pensar e que elas não são manifestações de qualquer arcaísmo ou menos ainda de "selvageria" ou "barbárie". Deve-se aos culturalistas o fato de terem evidenciado a relativa coerência de todos os sistemas culturais: cada um é uma expressão particular de uma humanidade única, mas tão autêntica quanto todas as outras expressões.

Os pesquisadores culturalistas contribuíram muito para eliminar as confusões entre o que se refere á natureza (no homem) e o que se refere á cultura. Eles foram muito atentos aos fenômenos de incorporação de cultura mostrando que até o corpo é trabalhado pela cultura.

Explicavam ainda, que a cultura "interpreta" a natureza e a transforma. Até as funções vitais são "informadas" pela cultura: comer, dormir, copular, dar à luz, mas também defecar, urinar ou ainda andar, correr, nadar, etc. Cada cultura particular determina profundamente todas estas práticas do corpo aparentes e absolutamente naturais. Isto será melhor apresentado por Marcel Mauss, em 1936, em um estudo sobre as "técnicas corporais": não se senta, não se deita ou se anda da mesma maneira em todas as culturas. No ser humano pode-se observar a natureza transformada pela cultura.

Com certeza, os culturalistas não conseguiram esgotar de uma vez por todas a "natureza da cultura” e a discussão continuará aberta. 



Assista ao vídeo com o sociológo e professor da Escola de Comunicação (UFRJ) Muniz Sodré


Muniz Sodré mostra como um determinado pensamento abstrato e teórico sobre a diversidade acaba desviando a atenção sobre a fundamental importância da existência da diversidade. Para ele, somente na diversidade e nas relações que se criam a partir dela, é que podemos montar as redes de afeição e relacionamentos que precisamos para a nova realidade mundial. Muniz também faz um breve resumo da importância dos negros para a nossa cultura e para a criação da diversidade brasileira.



quinta-feira, 22 de março de 2012

ÉMILE DÜRKHEIM


Dürkheim e seus colaboradores formaram a fa-mosa Escola Sociológica Francesa, e dedicaram suas vidas e esforços á emancipação da Sociologia como disciplina cientifica, distinguindo seu método e objeto dos métodos e objetos das ciências naturais e das demais filosofias sociais.
O grande desafio era construir uma ciência que garantisse rigor metodológico suficiente para ultrapassar as noções vulgares e as paixões, cons-truindo um critério de objetividade e neutralidade do conhecimento; sem limitar-se à mera reprodu-ção do referencial metodológico das ciências naturais.
Suas principais obras foram: Da divisão do tra-balho social, As regras do método sociológico, O suicídio, Formas elementares da vida religiosa, Educação e Sociologia, Sociologia e Filosofia e Lições de Sociologia. Primeiro catedrático da história da sociologia é considerado o FUNDA-DOR da sociologia acadêmica.


I. Fato Social
OBJETO de análise, a partir do qual o sociólogo deveria conduzir suas investigações. Seriam ma-neiras de ser, agir e pensar consolidadas social-mente e que possuíssem 3 características:

a) exterioridade: existem e atuam sobre os indivíduos independente de sua vontade ou adesão conscientes, pois existem fora deles. Para existirem, os valores sociais não necessi-tam expressar-se em uma determinada pessoa, nem que este esteja de acordo com eles. Independem dos indivíduos, são exteriores a ele.

b) coercitividade: os fatos sociais impõem-se aos indivíduos levando-os a se conformarem às regras e preceitos morais da sociedade em que vivem. Submissão do indivíduo às regras sociais - leis, língua, família. Ao desvio, à re-sistência aplicam-se as sanções ou punições, que podem ser legais/jurídicas ou espontâ-nea.

c) generalidade: por isso tornam-se freqüen-tes, repetindo-se senão em todos os indiví-duos, na maioria deles. Constituem-se fun-damento da sociabilidade, e principal força integradora da sociedade.


II. Consciência Coletiva
Os fatos sociais são formados a partir de repre-sentações coletivas, ou seja, como a sociedade vê a si mesma o mundo que a rodeia, que produz a CONSCIÊNCIA COLETIVA, que se sobrepõe às consciências dos indivíduos.
A consciência coletiva é composta pelo conjun-to de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade. Ao nascer o indivíduo já encontra um conjunto de regras morais e legais que se impõe a ele, independente de suas interpretações ou desejos pessoais.

III. O Método
Para que os estudos tenham base científica, ca-pazes de superar as noções vulgares e a afetivida-de, o cientista deveria, segundo Dürkheim, tratar os fatos sociais como COISAS exteriores e inde-pendentes de sua existência; tais fatos deveriam ser observados de maneira, absolutamente, neutra e objetiva.


IV. Normal e Patológico
Os fatos sociais podem ser classificados por seus estados de normalidade ou patologia, como qualquer outro organismo vivo.
É normal o fato social que, a princípio, apresen-ta-se generalizado e cristalizado na sociedade e aceito pelo consenso social, apresentando alguma função importante para a evolução ou adapta-ção do organismo social. Além disso, a normalidade também se expressa na reação dos indivíduos que confirme ou defenda a moral vigente, a ordem e a consciência coletiva.
Patológico seria o fato social que colocasse em risco essa mesma ordem ou moral vigente, invia-bilizando o funcionamento da sociedade. Noutras palavras, patológico é o fato social que desenca-deia crise e enfraquecimento da consciência cole-tiva. Isto pode se dar em duas circunstâncias distintas:
a) quando a TAXA DE INCIDÊNCIA de cri-mes é tão alta (o critério aqui não é único, e varia de acordo com o preceito moral agredido e sua impor-tância para a estabilidade das instituições) que a despeito das reações de confirmação da consciência coletiva, o número de eventos — POR SI — é capaz de desen cadear uma situação de crise.
b) quando ocorre a quebra do “bom senso” so-cial, ou seja, quando independente da taxa de inci-dência, os indivíduos adotarem uma postura forta-lecedora do comportamento anômalo, portanto, em discordância com as regras de condutas socialmente estabelecidas e enfraquecedora da moral social.

V. Papel Desempenhado pela Divisão do Trabalho Social
A sociologia positivista utiliza-se do método comparativo para estudar diferentes sociedades estabelecendo diferentes e hierárquicos estágios evolutivos.
Uma sociedade é considerada avançada se nela estiver presente altos níveis de divisão do trabalho social ou especialização que, por sua vez, asseguraria uma maior interdependência entre os indivíduos reforçando - de forma superior - a coesão social. Existiriam dois principais tipos de sociedades:

a) primitivas sociedades com pouca ou quase ne-nhuma divisão do trabalho social. Aqui a sociabilidade não sendo natural será forjada pela atuação da consci-ência coletiva. A semelhança é o fundamento da coesão social e o direito fortemente repressivo, caracterizando a SOLIDARIEDADE MECÂNICA.

b) avançadas sociedades marcadas por uma altíssima divisão do trabalho social. Aqui a interdependência entre os indivíduos derivaria naturalmente da especialização, de tal maneira que a consciência coletiva não precisaria atuar mais de forma repressiva. Assiste-se, pois, ao avanço do direito restitutivo. A diferença é o fundamento da coesão social, caracterizando a SOLIDARIEDADE ORGÂNICA.



VI. Anomia
Intenso enfraquecimento da moral social (e co-mo a moralidade é sinônimo de solidariedade, a sociedade encontraria-se diante de uma situação de absoluta desagregação e instabilidade), em que as normas não são capazes ou deixam de regular e moderar a competição na vida social, provocando um estado de guerra crônico. Sob essas circunstâncias os indivíduos deixam de ser solidários, a hostilidade e a desconfiança se generalizam. Não estando em contato, na medida em que os laços provocados pela solidariedade orgânica esvaíram-se, a própria continuidade da existência da coletividade se vê ameaçada. Esta situação caracteriza-se como o estado de ANOMIA.
Tal estado pode tanto ser resultado do agrava-mento de um fenômeno social de características mórbidas, quanto resultado de uma crise econô-mica - por exemplo. Para Dürkheim são três as possibilidades de anomia nas sociedades comple-xas: as crises industriais e comerciais, a relação capital X trabalho e a intensa especialização de tarefas no interior da ciência.


VII. O SUICÍDIO
Suicídio: ato de retirar a própria vida a partir da per feita consciência das conseqüências dos seus atos.

Altruísta
* Típico de sociedades com solidariedade mecânica, onde o indivíduo não se pertence.
* Levado por uma missão social inevitável de resgate ou manutenção da moral.
* Realizado por entre homens que chegaram no limiar da velhice ou acometidos por doenças, viúvas frente a morte do marido e fiéis que perdem seus chefes.

Egoísta
* Típico de sociedade com solidariedade orgânica, onde existe uma individualização desmensurada.
* Sensações de desamparo e desespero.

Anômico
* Típico de sociedades com solidariedade orgânica
* Resultado de situações de anomia ou desagregação social. Crise de 29.
 


Slides: Relação Indivíduo e Sociedade
http://www.4shared.com/rar/GiXHNa-2/file.html

Slides: Metódo
http://www.4shared.com/office/P5tYEfIe/file.html
 
Slides: Normal e Patológico / Divisão do Trabalho Social / Suicídio
http://www.4shared.com/office/cLMlJz4f/file.html




 A concepção de sociedade de Durkheim, baseada na ideia de fato social e solidariedade, é apresentada pelo sociólogo Gabriel Cohn e por meio de visita ao menor município do país, Águas de São Pedro, em São Paulo. Na cidade, a doutoranda Rachel Weiss apresenta pontos da teoria utilizando a relativa simplicidade da vida na pequena comunidade. Programa da disciplina Sociologia da Educação do Curso de Pedagogia Unesp/Univesp

:: Vídeo 1 ::


:: Video 2 ::


Comte

Texto base para estudo: Auguste Comte [http://www.4shared.com/office/jEBhvFxI/file.html]

AUGUSTE COMTE
A Dupla Revolução Burguesa, Industrial e Francesa, ao mesmo tempo que consolidou o poder burguês na Europa Ocidental, trouxe tam-bém a impressão de que as sociedades européias estavam desorganizadas e anárquicas.
Sob o peso da máquina e temendo a massa, as classes dominantes, lideradas pela burguesia, passam a reconhecer em um novo surto de idéias, denominado positivismo, a doutrina capaz de estabilizar a organização da sociedade.
A configuração da sociologia em seu nascimen-to deixa claro seu compromisso com a classe burguesa. E evidencia disso seu discurso preten-samente neutro de defesa incondicional da ordem social capitalista e do progresso econômico como sinal da evolução social. Assim nasce o pensa-mento positivista: Saint Simon, Le Play, Le Bon e Auguste Comte entendida como um corpo teórico e técnico de justificativa da manutenção do poder da burguesia.
Logo estava em curso uma tentativa de promo-ver a conformação social de maneira científica, mediante a submissão das individualidades frente a um projeto de sociedade dirigido por institui-ções: a família, a Igreja, o Estado, etc.


A) O Positivismo de Auguste Comte

ORGANICISMO: definição do objeto sociedade, que é percebida como um corpo, um organismo complexo composto por diferentes partes, cujo funcionamento coeso e integrado, necessariamen-te marcado por uma harmonia e equilíbrio natu-rais, possibilitaria uma evolução contínua.

CIENTIFICISMO: Comte recorre à metodologia das ciências naturais, depositando uma fé absoluta e ina balável na razão, como única forma (objetiva e neutça), de compreender o funcionamento do organismo social; sendo a ciência sempre inquestionável — na medida em que o conhecimento científico seria a tradução da realidade sob a forma de leis naturais.

LEI DA ORDEM E DO PROGRESSO: a soci-edade possuiria dois movimentos naturais e essenciais. Movimento estático: responsável pela organização e equilíbrio do organismo, ajustando os individuos às condições que garantiriam um melhor funcionamento da sociedade. A harmonia é pressuposto fundamental da vida social e do próprio progresso. Movimento dinâmico: é o responsável pela evo lução do organismo social, segundo a lei universal: do mais simples para o mais complexo. Tal evolução se dá de forma linear e não contraditória.

EVOLUCIONISMO: buscando construir uma teoria justificadora das desigualdades sociais e do imperialis mo europeu. Visão linear, mecânica e etnocêntrica das diferentes sociedades.

LEI DOS TRÊS ESTÁGIOS: seleção natural
1- Teológico
2- Metafísico
3- Positivo ou Científico

1) Teológico
     - primitivo “provisório e preparatório”
     - explicações através de agentes sobrenaturais
     - o homem imagina ter uma compreensão absoluta do mundo
       a) Fetichismo
       b) Politeísmo
       c) Monoteísmo (transição ao estagio metafísico). 

2) Metafísico
     - explicações por meio de entidades ocultas ou abstratas
     - estágio transitório

3) Positivo
     - estágio mais evoluído
     - sociedades avançadas
     - dois movimentos
a.    Movimento Estático ou Ordem
b.    Movimento Dinâmico ou Progresso


EXERCÍCIOS

Questão 01
Marque Verdadeiro ou Falso para as alternativas que indicam o contexto histórico, social e filosófi-co que possibilitou a gênese da sociologia.

I (  ) A sociologia é um produto das revoluções francesa e industrial e foi uma resposta às novas situações colocadas por estas revoluções.
II (  ) Com o desenvolvimento do industrialismo, o sistema social passou da produção da guerra para a produção das coisas úteis, através da orga-nização da ciência e das artes.
III (  ) O pensamento filosófico dos séculos XVII e XVIII contribuiu para popularizar os avanços científicos, sendo a teologia a forma norteadora desse pensamento.
IV (  ) A formação de uma sociedade, que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente, propiciou o fortalecimento da servidão e da famí-lia patriarcal.
GABARITO: V, V, F, F

Questão 02
Surgida no momento de consolidação da socieda-de capitalista, a Sociologia tinha uma importante tarefa a cumprir na visão de seus fundadores, dentre os quais se destaca Augusto Comte e Saint-Simon, marque (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas.

I (  ) Desenvolver o puro espírito científico e in-vestigativo, sem maiores preocupações de nature-za prática, deixando a solução dos problemas sociais por conta dos homens de ação.
II (  ) Incentivar o espírito crítico na sociedade e, dessa forma, colaborar para transformar radical-mente a ordem capitalista, responsável pela exploração dos trabalhadores.
III (  ) Contribuir para a solução dos problemas sociais decorrentes da Revolução Industrial, tendo em vista a necessária estabilização da ordem proletária.
IV (  ) Tornar realidade o chamado “socialismo utópico”, visto como única alternativa para a superação das lutas de classe em que a sociedade capitalista estava mergulhada.
GABARITO: F, F, V, F

Questão 03
Sobre o surgimento da sociologia, marque (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas.

I (  ) a consolidação do sistema capitalista na Europa no século XIX forneceu os elementos que serviram de base para o surgimento da sociologia como ciência particular.
II (  ) o homem passou a ser visto, do ponto de vista  sociológico, a partir de sua inserção na soci-edade e nos grupos sociais que a constituem.
III (  ) aquilo que a sociologia estuda constitui-se historicamente como o conjunto de relacionamentos que os homens estabelecem entre si na vida em sociedade.
IV (  ) interessa  para a sociologia, não indivíduos isolados, mas inter-relacionados com os diferentes grupos sociais dos quais fazem parte, como a escola, a família, as classes sociais etc..
GABARITO: V, V, V, V

domingo, 18 de março de 2012

PALESTRA: Terrorismo

O Fundamentalismo Islâmico 

Igor Gielow

A partir de uma experiência de vida cotidiana entre grupos como os Talebans no Afeganistão e Paquistão, o premiado jornalista nos guiará pela geografia do ódio fundamentalista islâmico naqueles países. Seria possível responder a seguinte questão: por que eles odeiam tanto a civilização ocidental? É possível “amar” o terrorista? Qual a justa medida numa relação com ele?

Para assistir clique na foto ou copie o link 
ttp://www.cpflcultura.com.br/site/2011/09/16/o-fundamentalismo-islamico-%E2%80%93-igor-gielow-2/