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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Hegemonia às avessas

Confira nos links e no video a percepção do professor Francisco de Oliveira quanto a posição do PT no segundo mandato Lula: 

Alguns trechos do artigo publicado pela revista Piauí:

* "O ceticismo é geral quanto ao segundo mandato. Ninguém, à direita e à esquerda, espera grandes alterações nas políticas governamentais. Lula parece uma barata tonta, clamando por soluções para, conforme diz, “destravar” o desenvolvimento."

* "Não é o patriarcalismo brasileiro de Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre, porque não é nenhum patriarca quem exerce o mando, nem a economia é “doméstica” (no sentido do domus romano), embora na cultura brasileira o chefe político possa se confundir, às vezes, com o “pai” – Getúlio Vargas foi apelidado de pai dos pobres e Lula pensa tomar-lhe o lugar; mas o que ele gere, com sua classe, é capital. Não é populismo, como sugere a crítica da direita, e mesmo de alguns setores da esquerda, porque o populismo foi uma forma autoritária de dominação na transição da economia agrária para a urbano-industrial. E o populismo foi – de forma autoritária, enfatize-se – a inclusão sui generis da novel classe operária, desbalanceando a velha estrutura de poder no Brasil, deslocando fortemente os latifundiários da base da dominação. Nada disso está presente na nova dominação."

Alguns trechos da entrevista para o GLOBO: 

O Globo: qual o espaço de atuação da esquerda hoje, então?
OLIVEIRA: Nenhum. A esquerda foi massacrada. O próprio PSOL, com o qual tentei contribuir, não existe praticamente. Essa vitória retumbante de Lula no segundo turno tirou qualquer perspectiva da esquerda, dentro ou fora do PT.

O Globo: Por quê?
OLIVEIRA: Porque Lula converteu-se num mito, e o mito é antipolítico por excelência. Ele se coloca acima das classes, dos conflitos. Com o mito você não faz política. E Lula converteu-se num mito.

O Globo: As urnas legitimaram esse mito?
OLIVEIRA: Sem dúvida nenhuma, por caminhos que são quase impossíveis de decifrar completamente. E este programa do Bolsa Família é extremamente perigoso, deste ponto de vista. Cria o que chamei de hegemonia às avessas.

O Globo: O que significa isso?
OLIVEIRA: O Bolsa Família é a base dessa hegemonia torta. A ficha me caiu quando eu vi um filme sobre a África do Sul, “Infância roubada”. Eles derrotaram um dos regimes mais nefandos do século XX. Pois bem, a África do Sul, exatamente através de um mito, que é Mandela, derrotou o apartheid. Para quê? Para as enormes favelas da África do Sul (pausa). Joanesburgo é um horror. Adota a política neoliberal mais
ortodoxa possível, foi derrotado pelo neoliberalismo. É a hegemonia às avessas. Você derrota o apartheid para servir aos senhores do apartheid.

O Globo: Vê um paralelo dessa situação com a vitória de Lula?
OLIVEIRA: Vejo. Talvez não tenha as mesmas cores dramáticas. Mas vejo algo parecido. Você derrota a poderosa discriminação social brasileira, o preconceito de classe absurdamente alto num país com tradição racista, para quê? Para governar para os ricos. E os ricos consentem, desde que os fundamentos da exploração não sejam postos em xeque. É o que o PT faz. É o que o governo do Lula faz. É ao avesso,
portanto. A característica da hegemonia às avessas é que a política não passa pelo conflito de classes. Desviou-se.

Assista ao video com o professor Francisco de Oliveira:

 
Boa Reflexão!!

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