Descobrindo o Brasil pela
Literatura
Uma tentativa de
compreender a Cultura Brasileira
Antes de falarmos da questão cultural no Brasil
contemporâneo, iniciaremos fazendo uma breve abordagem pela análise dos
movimentos literários clássicos do século XIX, o que nos permitirá descobrir um
novo Brasil . A prática da leitura e, principalmente, da boa leitura, auxilia e
muito o entendimento da sociologia, em especial do tema abordado – Cultura.
A partir de agora, você entrará no mundo da literatura,
com a intenção de compreender melhor a questão cultural e a formação da
nacionalidade no Brasil. Com tristeza digo: abordaremos apenas alguns autores e
de forma rápida!
Nossa viagem começa
com o romantismo. Usando uma linguagem do dia-a-dia, essa escola teve um
papel crucial na formação da identidade brasileira, pois ao tentar compreender
o que era ser brasileiro, contribuiu bastante para formação de um sentimento
patriótico.
Os autores brasileiros da escola romântica buscaram sua
fonte de inspiração na natureza e nas questões sociais e políticas do país. As
obras brasileiras, deste período, valorizavam o amor sofrido, a religiosidade
cristã, a importância de nossa natureza, a formação histórica do nosso país e o
cotidiano popular.
Castro Alves (1847-1871) conhecido como o “Poeta dos
Escravos”. Manifestou toda sua sensibilidade escrevendo versos de
protesto contra a situação de exploração a que os negros eram submetidos.
José de Alencar (1829-1877) escreveu
romances como Iracema, em que índios eram protagonistas, procurando valorizar e
definir como uma marca de nacionalidade aquilo que antes era considerado um
defeito: o fato de o Brasil ser um país habitado por índios, de ter uma cultura
indígena.
Euclides da Cunha (1866-1909) jornalista e engenheiro
militar. Indo ao interior da Bahia como enviado de guerra, (repórter) para
cobrir a Guerra de Canudos ficou impressionado com o que viu – uma população
pobre, fanatizada e completamente diferente da população do sul do país, mas,
preparada para enfrentar a miséria e as dificuldades do sertão, com uma forma
própria de encarar o mundo e a vida – produziria um clássico da literatura
mundial "Os Sertões". Uma obra
contundente, que destruía o sonho brasileiro da república e da civilização
branca europeizada.
Foi o primeiro escritor brasileiro a diagnosticar o
subdesenvolvimento do Brasil, referindo-se à existência de dois países
contraditórios: o do litoral e o do sertão. Mostrou a miséria e o isolamento a
que estava condenada a população do sertão. Canudos resultou do confronto entre
esses dois Brasis, distintos entre si no espaço e no tempo, pelo atraso
de séculos em que vivia mergulhada a sociedade rural.
Em 1902, Euclides da Cunha terminou seu livro, contando a
verdadeira história sobre o extermínio de Canudos: uma luta desigual e
vergonhosa, em que o exército brasileiro se cobriu de infâmia. O inimigo
invencível afinal de contas não passava de gente sofrida das secas. Mulheres,
velhos e crianças que resistiram até o fim, numa luta inglória. Negros e índios
que buscavam criar um espaço em que pudessem ser admitidos como integrantes da
nação.
A partir de Canudos, Euclides da Cunha passará a defender a
necessidade de se conhecer e compreender esse homem brasileiro desconhecido e
perdido no interior.
Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) Médico, professor
da Faculdade de Medicina da Bahia, como outros doutores de sua geração, era
também etnólogo. Com esse autor o racismo e o preconceito brasileiro tomam um
rumo “científico”. Vale a pena conferir!
Quando, em 5 de outubro de 1897, as tropas federais entraram
em Canudos para o ataque final, Antônio Conselheiro já não estava à frente de
seus fiéis. Havia morrido em 22 de setembro. A causa da morte não foi bem
esclarecida, mas bem pode ter sido aquilo que na região era conhecido como
‘caminheira’, diarréia. Uma prosaica e deprimente condição que vitimava, e
ainda vitima, milhões de brasileiros (crianças, sobretudo) e que está ligada à
má higiene dos alimentos e à deficiente qualidade da água. Morte inglória,
portanto. Mas, de qualquer modo, o cadáver foi desenterrado e decapitado. A
cabeça não foi, como a de Tiradentes, exibida em público para escarmento da
população sertaneja. Não, esses tempos já haviam passado. Em vez disso, a
cabeça foi enviada a um cientista, para ser estudada: era preciso descobrir o
que havia ali, que poder misterioso capaz de mobilizar multidões residira
naquele cérebro. O responsável por essa
análise seria o médico Nina Rodrigues.
O trabalho de Nina Rodrigues foi
altamente influenciado pelas idéias de Joseph Arthur, conde de Gobineau, que veio
para o Rio de Janeiro como chefe da missão francesa entre abril de 1869 e maio
de 1870.
Gobineau interessou-se pela
mestiçagem no Brasil. É considerado hoje um dos precursores do racismo nazista.
Previa que a mistura de raças acabaria levando à pura e simples extinção da
população brasileira. Suas idéias coincidiam com o pensamento político
brasileiro da época, voltado para o branqueamento e europeização do país, e
foram seguidas, em maior ou menor grau, por instituições voltadas ao estudo
antropológico: a Faculdade de Medicina da Bahia, o Museu Nacional e a Escola
Militar, no Rio de Janeiro.
As teorias raciais surgidas no Brasil nas últimas décadas do
século XIX não eram necessariamente agressivas aos grupos que formavam a
nacionalidade. Nina Rodrigues não desprezava as manifestações culturais dos
negros, pelo contrário, buscava compreender a vida e os costumes da população
africana que viera para cá como escrava. Entretanto, para ele, a miscigenação
resultaria inevitavelmente em desequilíbrio mental. Lembram da teoria da degenerescência! Qualquer semelhança não é
mera coincidência!
O médico e criminologista Cesare Lombroso, acreditava na
idéia de “criminoso nato”, cujas características manifestar-se-iam inclusive no
tipo da face e na conformação do crânio. Medir e estudar crânios era uma
obsessão da época, o que explica a solicitação de Nina Rodrigues, pelo crânio
de Antônio Conselheiro.
Ah, sim! Analisando o crânio de Antônio Conselheiro, Nina
Rodrigues observou que, em se tratando de um “mestiço”, o morto era “muito
suspeito de ser degenerado”. Também notou que o morto quase não tinha dentes. O
que, provavelmente, foi, em seu laudo, a única observação apoiada na realidade.
Outro movimento preocupado em mostrar o Brasil aos
brasileiros foi o Modernismo. Coletando elementos do cotidiano da
população, expressões, expectativas, costumes e crenças foi-se construindo o
caráter do brasileiro. Dessa seleção nasce Macunaíma, a obra mais famosa de Mário
de Andrade. As questões regionais também foram bastante focadas, em
especial, pelos autores Graciliano Ramos e Raquel de Queiroz.
Na tentativa de compreender a arte e a cultura popular no
país, surgem nos anos 50 e 60, movimentos culturais como o projeto CPC (Centro
Popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes). O objetivo era
estabelecer uma ponte entre os intelectuais engajados num projeto de
transformação social e o povo, baseando- se na necessidade que acreditavam que
este tinha de ser conscientizado para poder transformar o país.
O grave problema desse movimento era o fato de os
intelectuais acreditarem que a arte feita pelo próprio povo era rudimentar, com
nível de elaboração artística primário. Segundo o CPC, para poder transformar a
sociedade era preciso transformar a arte do povo, eliminando seu caráter
rudimentar.
Já o teatro de Arena e Oficina consegue recuperar e reinterpretar eventos e
personagens históricos do Brasil. Outro marco foi o cinema novo, cuja
temática essencialmente social contribui para a construção de um retrato brasileiro
que enfoca a pobreza do povo, a crueldade das autoridades e a falta de
perspectivas.
O Tropicalismo nos anos 60, liderado por Caetano
Veloso e Gilberto Gil, continuou discutindo a cultura popular brasileira. A
exemplo do modernismo, esse movimento levantou questões importantes como o que
é nacional, o que é estrangeiro, o que é popular, o que é erudito.
Com tais exemplos notamos que houve entre os intelectuais e
artistas brasileiros, independentemente de sua concepção político-ideológica, a
preocupação com a questão da nacionalidade e com a definição de uma cultura
brasileira e popular.
Ao detectar e estudar a cultura negra, por exemplo, o que os
autores faziam era tentar compreender o Brasil e achar um “lugar” para essa
cultura dentro da cultura brasileira. O mesmo se fazia, por exemplo, com
relação aos índios e às populações camponesas do interior. Por essa razão
acreditamos ser possível viajar e desvendar os mistérios do Brasil através de
sua inconfundível Literatura.
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