Páginas

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Aprofundamento no Conceito de Cultura III


Descobrindo o Brasil pela Literatura
Uma tentativa de compreender a Cultura Brasileira

Antes de falarmos da questão cultural no Brasil contemporâneo, iniciaremos fazendo uma breve abordagem pela análise dos movimentos literários clássicos do século XIX, o que nos permitirá descobrir um novo Brasil . A prática da leitura e, principalmente, da boa leitura, auxilia e muito o entendimento da sociologia, em especial do tema abordado – Cultura.

A partir de agora, você entrará no mundo da literatura, com a intenção de compreender melhor a questão cultural e a formação da nacionalidade no Brasil. Com tristeza digo: abordaremos apenas alguns autores e de forma rápida!

Nossa  viagem começa com o romantismo. Usando uma linguagem do dia-a-dia, essa escola teve um papel crucial na formação da identidade brasileira, pois ao tentar compreender o que era ser brasileiro, contribuiu bastante para formação de um sentimento patriótico.

Os autores brasileiros da escola romântica buscaram sua fonte de inspiração na natureza e nas questões sociais e políticas do país. As obras brasileiras, deste período, valorizavam o amor sofrido, a religiosidade cristã, a importância de nossa natureza, a formação histórica do nosso país e o cotidiano popular.

Castro Alves (1847-1871) conhecido como o “Poeta dos Escravos”. Manifestou toda sua sensibilidade escrevendo versos de protesto contra a situação de exploração a que os negros eram submetidos.

José de Alencar (1829-1877) escreveu romances como Iracema, em que índios eram protagonistas, procurando valorizar e definir como uma marca de nacionalidade aquilo que antes era considerado um defeito: o fato de o Brasil ser um país habitado por índios, de ter uma cultura indígena.

Euclides da Cunha (1866-1909) jornalista e engenheiro militar. Indo ao interior da Bahia como enviado de guerra, (repórter) para cobrir a Guerra de Canudos ficou impressionado com o que viu – uma população pobre, fanatizada e completamente diferente da população do sul do país, mas, preparada para enfrentar a miséria e as dificuldades do sertão, com uma forma própria de encarar o mundo e a vida – produziria um clássico da literatura mundial  "Os Sertões". Uma obra contundente, que destruía o sonho brasileiro da república e da civilização branca europeizada.

Foi o primeiro escritor brasileiro a diagnosticar o subdesenvolvimento do Brasil, referindo-se à existência de dois países contraditórios: o do litoral e o do sertão. Mostrou a miséria e o isolamento a que estava condenada a população do sertão. Canudos resultou do confronto entre esses dois Brasis, distintos entre si no espaço e no tempo, pelo atraso de séculos em que vivia mergulhada a sociedade rural.

Em 1902, Euclides da Cunha terminou seu livro, contando a verdadeira história sobre o extermínio de Canudos: uma luta desigual e vergonhosa, em que o exército brasileiro se cobriu de infâmia. O inimigo invencível afinal de contas não passava de gente sofrida das secas. Mulheres, velhos e crianças que resistiram até o fim, numa luta inglória. Negros e índios que buscavam criar um espaço em que pudessem ser admitidos como integrantes da nação.

A partir de Canudos, Euclides da Cunha passará a defender a necessidade de se conhecer e compreender esse homem brasileiro desconhecido e perdido no interior.

Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) Médico, professor da Faculdade de Medicina da Bahia, como outros doutores de sua geração, era também etnólogo. Com esse autor o racismo e o preconceito brasileiro tomam um rumo “científico”. Vale a pena conferir!

Quando, em 5 de outubro de 1897, as tropas federais entraram em Canudos para o ataque final, Antônio Conselheiro já não estava à frente de seus fiéis. Havia morrido em 22 de setembro. A causa da morte não foi bem esclarecida, mas bem pode ter sido aquilo que na região era conhecido como ‘caminheira’, diarréia. Uma prosaica e deprimente condição que vitimava, e ainda vitima, milhões de brasileiros (crianças, sobretudo) e que está ligada à má higiene dos alimentos e à deficiente qualidade da água. Morte inglória, portanto. Mas, de qualquer modo, o cadáver foi desenterrado e decapitado. A cabeça não foi, como a de Tiradentes, exibida em público para escarmento da população sertaneja. Não, esses tempos já haviam passado. Em vez disso, a cabeça foi enviada a um cientista, para ser estudada: era preciso descobrir o que havia ali, que poder misterioso capaz de mobilizar multidões residira naquele cérebro.  O responsável por essa análise seria o médico Nina Rodrigues.

O trabalho de Nina Rodrigues foi altamente influenciado pelas idéias de Joseph Arthur, conde de Gobineau, que veio para o Rio de Janeiro como chefe da missão francesa entre abril de 1869 e maio de 1870.

Gobineau interessou-se pela mestiçagem no Brasil. É considerado hoje um dos precursores do racismo nazista. Previa que a mistura de raças acabaria levando à pura e simples extinção da população brasileira. Suas idéias coincidiam com o pensamento político brasileiro da época, voltado para o branqueamento e europeização do país, e foram seguidas, em maior ou menor grau, por instituições voltadas ao estudo antropológico: a Faculdade de Medicina da Bahia, o Museu Nacional e a Escola Militar, no Rio de Janeiro.

As teorias raciais surgidas no Brasil nas últimas décadas do século XIX não eram necessariamente agressivas aos grupos que formavam a nacionalidade. Nina Rodrigues não desprezava as manifestações culturais dos negros, pelo contrário, buscava compreender a vida e os costumes da população africana que viera para cá como escrava. Entretanto, para ele, a miscigenação resultaria inevitavelmente em desequilíbrio mental. Lembram da teoria da  degenerescência! Qualquer semelhança não é mera coincidência!

O médico e criminologista Cesare Lombroso, acreditava na idéia de “criminoso nato”, cujas características manifestar-se-iam inclusive no tipo da face e na conformação do crânio. Medir e estudar crânios era uma obsessão da época, o que explica a solicitação de Nina Rodrigues, pelo crânio de Antônio Conselheiro.

Ah, sim! Analisando o crânio de Antônio Conselheiro, Nina Rodrigues observou que, em se tratando de um “mestiço”, o morto era “muito suspeito de ser degenerado”. Também notou que o morto quase não tinha dentes. O que, provavelmente, foi, em seu laudo, a única observação apoiada na realidade.

Outro movimento preocupado em mostrar o Brasil aos brasileiros foi o Modernismo. Coletando elementos do cotidiano da população, expressões, expectativas, costumes e crenças foi-se construindo o caráter do brasileiro. Dessa seleção nasce Macunaíma, a obra mais famosa de Mário de Andrade. As questões regionais também foram bastante focadas, em especial, pelos autores Graciliano Ramos e Raquel de Queiroz.

Na tentativa de compreender a arte e a cultura popular no país, surgem nos anos 50 e 60, movimentos culturais como o projeto CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes). O objetivo era estabelecer uma ponte entre os intelectuais engajados num projeto de transformação social e o povo, baseando- se na necessidade que acreditavam que este tinha de ser conscientizado para poder transformar o país.

O grave problema desse movimento era o fato de os intelectuais acreditarem que a arte feita pelo próprio povo era rudimentar, com nível de elaboração artística primário. Segundo o CPC, para poder transformar a sociedade era preciso transformar a arte do povo, eliminando seu caráter rudimentar.

Já o teatro de Arena e Oficina  consegue recuperar e reinterpretar eventos e personagens históricos do Brasil. Outro marco foi o cinema novo, cuja temática essencialmente social contribui para a construção de um retrato brasileiro que enfoca a pobreza do povo, a crueldade das autoridades e a falta de perspectivas.

O Tropicalismo nos anos 60, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, continuou discutindo a cultura popular brasileira. A exemplo do modernismo, esse movimento levantou questões importantes como o que é nacional, o que é estrangeiro, o que é popular, o que é erudito.

Com tais exemplos notamos que houve entre os intelectuais e artistas brasileiros, independentemente de sua concepção político-ideológica, a preocupação com a questão da nacionalidade e com a definição de uma cultura brasileira e popular.

Ao detectar e estudar a cultura negra, por exemplo, o que os autores faziam era tentar compreender o Brasil e achar um “lugar” para essa cultura dentro da cultura brasileira. O mesmo se fazia, por exemplo, com relação aos índios e às populações camponesas do interior. Por essa razão acreditamos ser possível viajar e desvendar os mistérios do Brasil através de sua inconfundível Literatura.

Sem comentários:

Enviar um comentário