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domingo, 22 de julho de 2012

O Homem é produto do seu Trabalho

 MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO

Karl Marx

   Um Parênteses Filosófico: 
Qual é a questão fundamental da filosofia?

Essa reflexão é essencial para entendermos, sem muita dificuldade, o passo seguinte, ou seja, a influência do Método Hegeliano na obra de Karl Marx. Além é claro, de traçar um paralelo entre materialismo e idealismo, duas correntes filosóficas extremamente importantes.
         A questão fundamental da filosofia é a relação entre o pensamento e o ser, entre o espiritual e o material, entre a consciência e a existência. As correntes filosóficas, por meio de toda a história da filosofia, têm procurado solucionar esse problema, debatendo esse dualismo.
         Geralmente, muitas pessoas confundem o sentido filosófico dos termos materialismo e idealismo, com o vulgarmente empregado. No sentido corriqueiro, materialismo significa luxúria, mesquinhez, busca de prazeres materiais. No mesmo sentido vulgar, idealista é a pessoa altruísta, boa, que luta por uma ideal. Ordinariamente, a burguesia e os seus intelectuais procuram alimentar essa confusão afirmando que o comunista, por ser materialista e ateu, come criancinhas ao molho pardo, estupra freiras ...
         No entanto, materialismo, em seu sentido filosófico, é a concepção científica do Universo e do Homem, que admite a prioridade da matéria sobre o pensamento. E o Idealismo é a postura filosófica que aceita a prioridade do pensamento, da idéia, sobre a matéria. No decorrer da exposição isso ficará mais claro!


Hegel de Pernas Para o Ar:

Diante do problema fundamental da filosofia (o que é primordial: a consciência ou a existência, o ser ou o pensamento, a idéia ou a matéria?), Marx permanece contrário às idéias de Hegel.
Para Hegel, o primordial, o que existe em primeiro lugar é a consciência universal. A história nada mais é do que uma manifestação do Espírito Universal. Os fatos, os fenômenos que ocorrem na realidade material e mesmo na consciência, no pensamento e no conhecimento humano, são um reflexo da Idéia Universal e Absoluta.
         Marx assumiu a causa do ser, da existência, da matéria e diz em voz alta: “A produção de idéias, de representações e da consciência, está direta e intimamente ligada à atividade material e ao comércio material dos homens, essa é a sua linguagem da vida real. As representações, o pensamento, o comércio intelectual dos homens surge diretamente de seu comportamento material”.
         Ora, a sociologia e a antropologia constatam esse fato, e consideram que o homem ao construir o seu mundo material, constrói a si mesmo. Desta forma, gritou Marx: “a filosofia alemã de Hegel desce do céu para a terra. Já a minha, parte da terra para o céu. As idéias morais, religiosas, metafísicas, não surgem do além, mas da vida concreta e real que os homens estabelecem para sobreviver”. Sartre escutando os berros acrescentou: “a existência precede a essência”.
         Marx afirma claramente que não é a consciência individual que determina todas as formas históricas e de comportamento social, e sim a produção da vida material. No que se refere ao problema fundamental da filosofia, não é o pensamento ou a consciência que existe primordialmente, mas a vida material.
         Ao colocar a dialética hegeliana de pernas para o ar, Marx elabora a dialética materialista. Em linguagem filosófica, a dialética de Marx é uma antítese à hegeliana.


DIALÉTICA MARXISTA

O termo dialética vem do grego dialegein, que significa discutir a contradição de idéias que leva a outras idéias.
         O esquema básico da dialética é: tese, antítese e síntese. A tese é uma afirmação ou situação inicialmente dada. A antítese é uma oposição à tese. É importante lembrar que a antítese não é a destruição da tese, e sim a tese aperfeiçoada. Do conflito entre tese e antítese surge a síntese, que é uma situação nova que carrega dentro de si elementos resultantes desse embate. A síntese, então, torna-se uma nova tese, que contrasta com uma antítese gerando uma nova síntese, e assim sucessivamente.
         Todos os processos que constituem a realidade social se explicam pela contradição, pela dialética. E é assim desde o início, desde a formação da sociedade. A sociedade humana é produto de uma luta entre a natureza e nossos ancestrais pela sobrevivência. O conteúdo concreto dessa luta foi e continua sendo o trabalho. Segundo o pensamento marxista, foi o trabalho que, agrupando os nossos ancestrais na luta  pela sobrevivência, deu origem às sociedades. Foi o trabalho que possibilitou a passagem do homem primitivo para o homem moderno.
         Como sabem, Marx é um materialista de “carteirinha”. Defende que a vida material está sempre em primeiro lugar. E ao perceber que o trabalho é a ferramenta necessária para a construção de uma nova forma de organização, ele acaba por negar, definitivamente, que os meios materiais de existência sejam um mero reflexo de algo pré-existente (idéias). Assim, o trabalho é a única categoria capaz de transformar a vida material.
         A realidade para Marx se apresenta como uma síntese de inúmeras determinações históricas, de forma que cada sociedade em um dado momento foi construída particularmente por um turbilhão de fatores de cunho social, econômico, político e cultural. Seria impossível, portanto, compreender o ambiente social sem buscarmos suas raízes históricas sob uma perspectiva global que contennha todos os aspectos do comportamento social.
         Marx cria, a partir de uma visão histórica totalizante, um método de compreensão da realidade denominado materialismo histórico e dialético, o qual tenta abstrair as contradições inerentes ao funcionamento das sociedades. O ponto de partida é a concepção materialista, de onde se deriva a idéia de que as relações sociais de produção determinam nossa construção cultural e ideológica. Sem delongas, o desenvolvimento histórico é explicado pela história da luta de classes, em outros termos, ela é o motor da história.
         A história do homem é a história da luta de classes. Para Marx a evolução histórica se dá pelo antagonismo irreconciliável entre as classes sociais de cada sociedade. Foi assim na escravista (senhores de escravos x escravos), na feudalista (senhores feudais x servos) e assim é na capitalista (burguesia x proletariado). Entre as classes de cada sociedade há uma luta constante por interesses opostos, eclodindo em guerras civis declaradas ou não. Na sociedade capitalista, a qual Marx e Engels analisaram mais intrinsecamente, a divisão social decorreu da apropriação dos meios de produção por um grupo de pessoas (burgueses) e por outro grupo expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de trabalho (proletários).
         Tendo a luta de classes de fundo, a contradição fundamental do funcionamento da sociedade ocorre entre as novas forças produtivas e as relações de produção envelhecidas.
        
Forças Produtivas é tudo aquilo que permite a produção de mercadorias: ferramentas, máquinas, matéria-prima, técnica, força de trabalho, etc.

Já as Relações de Produção, são os relacionamentos entre os proprietários da força produtiva, ou seja, os donos dos meios de produção e aqueles que trabalham para este.

Em geral, quanto mais tecnologia é empregada na força produtiva, mais tensa é a relação entre os operários e os donos das máquinas. Isso se dá por vários motivos: desemprego, diminuição dos salários e é claro, pelo trabalho rotineiro, alienado.


O método de análise da sociedade, materialista histórico e dialético passa por várias etapas:

1ª) Marx observa a sociedade como produto de uma luta de classes, promovida pela dialética. E vai mais longe, ao dizer que toda a história nada mais é do que a história da luta de classes.
2ª) A contradição fundamental presente na luta de classes, ocorre na estrutura da sociedade, na forma como os homens organizam a produção social de bens.
3ª) A produção social engloba dois fatores: Relações de Produção e Forças Produtivas.
4ª) As Relações de Produção juntamente com as Forças Produtivas, formam o que conhecemos por Infra-estrutura. É essa Infra-estrutura que determina as demais instituições sociais presentes na sociedade. O método consiste em dar uma visão materialista e geral da sociedade em que vivemos.


 
Assista ao vídeo para melhor compreensão. O aspecto sociológico do pensamento de Karl Marx é apresentado com base em entrevista do sociólogo Gabriel Cohn e a caracterização in loco da economia de uma pequena cidade paulista.



Manifesto do Partido Comunista, 1848:

“A burguesia desempenhou na História um papel eminentemente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores naturais", ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, entre os homens, o laço do frio interesse, as duras exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.
A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados. A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias”.

[Manifesto do Partido Comunista,  cap. 1: burgueses e proletário]

1 comentário:

  1. Professor, primeiramente muito bom o site, nos vestibulandos agradecemos.
    Depois gostaria de pedir se o senhor pode corrigir ou verificar a minha resposta a uma quetão da Ufu:

    Explique qual, para Marx, a relação entre relação social de produção e as forças produtivas:

    As relações sociais de produção são formas estabelecidas de distribuição dos meios de produção, do produto e do tipo de divisão social do trabalho numa dada sociedade
    e em um periodo historico determinado, ja as força produtivas são elementos que exercem na natureza uma influencia para modifica-la ou para produzir podendo ser elas
    os meios de produção ou o proprio trabalho humano, a relação existente entre elas é que Nas Relações sociais das sociedades capitalistas os meios de produção
    se concentram nas mãos dos burgueses, enquanto as forças produtivas representadas pelos operarios acabam por se tornar subordinados, com isso se sujeitam ao
    idealismo burgues e a consequente situação de vida precario, gerando lutas de classes.

    se o senhor puder me responder agradecerei muito, obrigada.

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