MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO
Karl Marx
Um Parênteses Filosófico:
Qual é a questão
fundamental da filosofia?
Essa reflexão é essencial para entendermos,
sem muita dificuldade, o passo seguinte, ou seja, a influência do Método
Hegeliano na obra de Karl Marx. Além é claro, de traçar um paralelo entre
materialismo e idealismo, duas correntes filosóficas extremamente importantes.
A questão fundamental da filosofia é a
relação entre o pensamento e o ser, entre o espiritual e o material, entre a
consciência e a existência. As correntes filosóficas, por meio de toda a
história da filosofia, têm procurado solucionar esse problema, debatendo esse
dualismo.
Geralmente, muitas pessoas confundem o
sentido filosófico dos termos materialismo e idealismo, com o vulgarmente
empregado. No sentido corriqueiro, materialismo significa luxúria, mesquinhez,
busca de prazeres materiais. No mesmo sentido vulgar, idealista é a pessoa
altruísta, boa, que luta por uma ideal. Ordinariamente, a burguesia e os seus
intelectuais procuram alimentar essa confusão afirmando que o comunista, por
ser materialista e ateu, come criancinhas ao molho pardo, estupra freiras ...
No entanto, materialismo, em seu
sentido filosófico, é a concepção científica do Universo e do Homem, que admite
a prioridade da matéria sobre o pensamento. E o Idealismo é a postura
filosófica que aceita a prioridade do pensamento, da idéia, sobre a matéria. No
decorrer da exposição isso ficará mais claro!
Hegel de Pernas Para o Ar:
Diante do problema fundamental da filosofia
(o que é primordial: a consciência ou a existência, o ser ou o pensamento, a
idéia ou a matéria?), Marx permanece contrário às idéias de Hegel.
Para Hegel, o primordial, o que existe em
primeiro lugar é a consciência universal. A história nada mais é do que uma manifestação
do Espírito Universal. Os fatos, os fenômenos que ocorrem na realidade material
e mesmo na consciência, no pensamento e no conhecimento humano, são um reflexo
da Idéia Universal e Absoluta.
Marx assumiu a causa do ser, da
existência, da matéria e diz em voz alta: “A produção de idéias, de
representações e da consciência, está direta e intimamente ligada à atividade
material e ao comércio material dos homens, essa é a sua linguagem da vida
real. As representações, o pensamento, o comércio intelectual dos homens surge
diretamente de seu comportamento material”.
Ora, a sociologia e a antropologia
constatam esse fato, e consideram que o homem ao construir o seu mundo
material, constrói a si mesmo. Desta forma, gritou Marx: “a filosofia alemã de
Hegel desce do céu para a terra. Já a minha, parte da terra para o céu. As
idéias morais, religiosas, metafísicas, não surgem do além, mas da vida
concreta e real que os homens estabelecem para sobreviver”. Sartre escutando os
berros acrescentou: “a existência precede a essência”.
Marx afirma claramente que não é a
consciência individual que determina todas as formas históricas e de
comportamento social, e sim a produção da vida material. No que se refere ao
problema fundamental da filosofia, não é o pensamento ou a consciência que
existe primordialmente, mas a vida material.
Ao colocar a dialética hegeliana de
pernas para o ar, Marx elabora a dialética materialista. Em linguagem
filosófica, a dialética de Marx é uma antítese à hegeliana.
DIALÉTICA MARXISTA
O termo dialética vem do grego dialegein,
que significa discutir a contradição de idéias que leva a outras idéias.
O esquema básico da dialética é: tese,
antítese e síntese. A tese é uma afirmação ou situação inicialmente dada. A
antítese é uma oposição à tese. É importante lembrar que a antítese não é a
destruição da tese, e sim a tese aperfeiçoada. Do conflito entre tese e
antítese surge a síntese, que é uma situação nova que carrega dentro de si
elementos resultantes desse embate. A síntese, então, torna-se uma nova tese,
que contrasta com uma antítese gerando uma nova síntese, e assim
sucessivamente.
Todos os processos que constituem a
realidade social se explicam pela contradição, pela dialética. E é assim desde
o início, desde a formação da sociedade. A sociedade humana é produto de uma
luta entre a natureza e nossos ancestrais pela sobrevivência. O conteúdo
concreto dessa luta foi e continua sendo o trabalho. Segundo o pensamento
marxista, foi o trabalho que, agrupando os nossos ancestrais na luta pela sobrevivência, deu origem às sociedades.
Foi o trabalho que possibilitou a passagem do homem primitivo para o homem
moderno.
Como sabem, Marx é um materialista de
“carteirinha”. Defende que a vida material está sempre em primeiro lugar. E ao
perceber que o trabalho é a ferramenta necessária para a construção de uma nova
forma de organização, ele acaba por negar, definitivamente, que os meios
materiais de existência sejam um mero reflexo de algo pré-existente (idéias).
Assim, o trabalho é a única categoria capaz de transformar a vida material.
A realidade para Marx se apresenta como
uma síntese de inúmeras determinações históricas, de forma que cada sociedade
em um dado momento foi construída particularmente por um turbilhão de fatores
de cunho social, econômico, político e cultural. Seria impossível, portanto,
compreender o ambiente social sem buscarmos suas raízes históricas sob uma
perspectiva global que contennha todos os aspectos do comportamento social.
Marx cria, a partir de uma visão
histórica totalizante, um método de compreensão da realidade denominado
materialismo histórico e dialético, o qual tenta abstrair as contradições
inerentes ao funcionamento das sociedades. O ponto de partida é a concepção
materialista, de onde se deriva a idéia de que as relações sociais de produção
determinam nossa construção cultural e ideológica. Sem delongas, o
desenvolvimento histórico é explicado pela história da luta de classes, em
outros termos, ela é o motor da história.
A história do homem é a história da
luta de classes. Para Marx a evolução histórica se dá pelo antagonismo
irreconciliável entre as classes sociais de cada sociedade. Foi assim na
escravista (senhores de escravos x escravos), na feudalista (senhores feudais x
servos) e assim é na capitalista (burguesia x proletariado). Entre as classes
de cada sociedade há uma luta constante por interesses opostos, eclodindo em
guerras civis declaradas ou não. Na sociedade capitalista, a qual Marx e Engels
analisaram mais intrinsecamente, a divisão social decorreu da apropriação dos
meios de produção por um grupo de pessoas (burgueses) e por outro grupo
expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de trabalho (proletários).
Tendo a luta de classes de fundo, a
contradição fundamental do funcionamento da sociedade ocorre entre as novas
forças produtivas e as relações de produção envelhecidas.
Forças Produtivas é tudo aquilo que permite
a produção de mercadorias: ferramentas, máquinas, matéria-prima, técnica, força
de trabalho, etc.
Já as Relações de Produção, são os
relacionamentos entre os proprietários da força produtiva, ou seja, os donos
dos meios de produção e aqueles que trabalham para este.
Em geral, quanto mais tecnologia é
empregada na força produtiva, mais tensa é a relação entre os operários e os
donos das máquinas. Isso se dá por vários motivos: desemprego, diminuição dos
salários e é claro, pelo trabalho rotineiro, alienado.
O método de análise da sociedade,
materialista histórico e dialético passa por várias etapas:
1ª) Marx observa a sociedade como produto de uma luta de classes,
promovida pela dialética. E vai mais longe, ao dizer que toda a história nada
mais é do que a história da luta de classes.
2ª) A contradição fundamental presente na luta de classes, ocorre na
estrutura da sociedade, na forma como os homens organizam a produção social de
bens.
3ª) A produção social engloba dois fatores: Relações de Produção e
Forças Produtivas.
4ª) As Relações de Produção juntamente com as Forças Produtivas,
formam o que conhecemos por Infra-estrutura. É essa Infra-estrutura que
determina as demais instituições sociais presentes na sociedade. O método
consiste em dar uma visão materialista e geral da sociedade em que vivemos.
Manifesto
do Partido Comunista, 1848:
“A burguesia desempenhou na História
um papel eminentemente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado o poder,
a burguesia destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os
complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores
naturais", ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, entre
os homens, o laço do frio interesse, as duras exigências do "pagamento à
vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo
cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo
egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as
numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável
liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por
ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta,
cínica, direta e brutal.
A burguesia despojou de sua auréola
todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso
respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus
servidores assalariados. A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que
envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias”.
[Manifesto do
Partido Comunista, cap. 1: burgueses e
proletário]
Professor, primeiramente muito bom o site, nos vestibulandos agradecemos.
ResponderEliminarDepois gostaria de pedir se o senhor pode corrigir ou verificar a minha resposta a uma quetão da Ufu:
Explique qual, para Marx, a relação entre relação social de produção e as forças produtivas:
As relações sociais de produção são formas estabelecidas de distribuição dos meios de produção, do produto e do tipo de divisão social do trabalho numa dada sociedade
e em um periodo historico determinado, ja as força produtivas são elementos que exercem na natureza uma influencia para modifica-la ou para produzir podendo ser elas
os meios de produção ou o proprio trabalho humano, a relação existente entre elas é que Nas Relações sociais das sociedades capitalistas os meios de produção
se concentram nas mãos dos burgueses, enquanto as forças produtivas representadas pelos operarios acabam por se tornar subordinados, com isso se sujeitam ao
idealismo burgues e a consequente situação de vida precario, gerando lutas de classes.
se o senhor puder me responder agradecerei muito, obrigada.